“Tomara que alguém seja
feliz nessa casa, porque eu nunca fui”. Era 6 de abril de 2015, há
quase vinte e cinco anos, o filho mais velho estava prestes a nascer.
Gravidez indesejada, mãe adolescente, parou de estudar, casamento
rápido. Não era isso que se imaginava ser o melhor. Mas a vida não
era tão promissora naqueles tempos. Pelo menos, ela estudou. Já
casada e com mais dois filhos além do primeiro, formou-se na
faculdade quando a filha mais nova tinha 7 anos. E tudo aconteceu
naquela casa que contruíram juntos.
Não se sabe bem o que
dizer a respeito do casal. Nem de longe pareciam uma família
perfeita. Mas a mãe tentava dizer que sim. O marido a traía com as
empregadas, saía para bailes, os vizinhos comentavam. Rápidas
separações ocorreram. Até que veio a definitiva.
Um turbilhão. Os filhos
não entenderam. Os mais novos foram deixados de lado, moraram com os
avós, ficavam na casa de colegas, e ninguém os ajudava a entender.
Os mais velhos, serviam como iscas para ambos os lados. Sim, tinham
dois lados. O que havia sido um, voltava a ser dois. Que confusão!
Imagine só, uma vida em
torno de um casamento que não deu certo. E foram dezoito anos, mas
ficam pra vida toda. Os filhos, revoltados ou esquecidos, são pra
vida toda. As fotos, que não forem queimadas, duram quase a vida
toda. Os traumas e lembranças, até depois da eternidade. A
infelicidade, não se sabe o quanto. A frustração, depende da
pessoa. Ter, pelo resto da vida uma pessoa pra chamar de “traste”,
“cafajeste”, “sem-vergonha” e até “lixo”. Isso é ter um
ex-marido.
E quando ela finalmente
consegue um comprador pra casa antiga, onde foi casada e morou por 18
anos, onde seus filhos brincaram e perderam os dentes de leite, onde
os filhos moços levaram as primeiras namoradinhas, olha em volta e
diz com convicção “Nunca fui feliz nessa casa”. A filha
questiona tal infelicidade e tem como resposta que talvez em festas
ali, aniversários e nascimentos ela foi feliz. Mas de verdade mesmo,
não.